quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Desinvenções ortográficas

Todas (as) pessoas estão na terra;
As palavras são inexplicáveis;
Sentimento vem e volta;
A alma se arrepende;
Palavras retornam;
A gente entende;
A Terra invade;
Sentimento;
Pessoas;
Você;
Nós.

Eu!
Eu estou;
Estou tentando ver;
O Sentimento que volta;
O Prazer que se foi há tempos;
Todas (as) Palavras refletidas no mundo;
E é aquele mundo vazio e sem sentimento;
Sentimento vazio(,) sentimento sem mundo;
Pessoas com um um mundo e sem sentimento...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tudo aquilo que não pára

As pontes estão todas quebradas. Não nos resta escolha, teremos que voar. E se quiserem cortar nossas asas, sucumbiremos ao trabalho, e com pó, sangue e suor, construiremos novas pontes. Sob o calor trabalharemos arduamente. E se o sol intenso queimar nossas vontades e demasiadamente nos castigar, faremos chuva. E se não for suficiente, se nossas almas ainda estiverem desidratadas e fracas, nos imporemos aos rios e aos mares. E quando estivermos cansados, se cansarmos, reinaremos em nosso cansaço. E da resoluta falta de força, nossos castelos serão reerguidos para que o mundo veja.

Vida e morte como um fio de cabelo comprido.

Só não sonharemos. E se houver oportunidade para isso, não faremos. Se nos permitirem sonhar, não sonharemos. E o arrependimento não nos acusará; não queremos o sonho. Afinal, depois de vida, vida e vida, podemos constatar que a realidade virou o sonho, mas o sonho nunca pretendeu ser realidade.

E se nós fazemos o mundo rodar, ainda assim, poderemos então, sem sonho, rodá-lo baseados no paradoxo.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Crianças e Adultos

Na infância, não me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Hoje, se me perguntassem, eu responderia que gostaria de ser criança novamente. Ser criança e poder viver em liberdade – liberdade de pensamentos, acima de tudo. Porque hoje, afinal, eu não penso livremente. Penso o que me impõem; penso o resultado e não me preocupo em saber o desenrolar da fórmula. Penso o que meu rótulo me permite pensar... E isso não é uma constatação. É uma verdade de ciência global e de esquecimento global, também. Triste fim ao ser humano, que, desde cedo, almeja a maioridade; sem saber, assim, que está desejando a morte da própria essência.

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E o convite de Deus, penso eu, é esse mesmo: Que sejamos crianças nas mãos dEle! Ora, pois Ele não precisa de sacrifícios adultos, apenas obediência. Ele não nos requer um comportamento sobre-humano, experiente; só quer que, em nossa humanidade, sejamos dependentes. E, que acima de tudo, entendamos que o propósito da nossa vida é muito simples: o amor.

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Infância
Carlos Drummond de Andrade

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

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