domingo, 28 de março de 2010

Ab aeterno

A vida me fez um escritor. Isso foi me imposto "goela abaixo". Escrevo a vida e ela me escreve. Não pense que foi uma opção, pois, se fosse, preferia ser como os outros. Seria mais fácil para adaptar. Mas não sei porquê; sou assim.


Portanto não me pergunte as coisas desnecessárias pois eu não saberei responder. Não faça comentários absurdos pois eu não compreenderei. Não venha me falar de Deus, diabo, fé, religião pois eu irei discordar de você.

Escrevo porque o tempo passa desordenadamente. Escrevo desordenadamente. Escrevo o caminho do ônibus, os passos das pessoas, o assombramento. Não descrevo; eu escrevo. É diferente, é mais profundo. Bem que eu queria apenas descrever... Ah, se queria!

Escrevo permanentemente. Acordo escrevendo, trabalho escrevendo, estudo escrevendo, durmo escrevendo. E em meus sonhos é apenas a escrita que eu consigo discernir.

Escrevo porque a música existe. E ela é ampla!

As pessoas também me fazem escrever, e sobre elas derramo as minhas mais terríveis palavras. Não entendo as pessoas. E eu sei que por mais que eu tente, e se eu tentar a vida toda, não conseguirei entender. E eu não me entendo.

E aliás: escrevo, escrevo, escrevo, e odeio tudo que escrevo! Nada mais me contenta. Nem as palavras. Mas eu preciso. Eu preciso...

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À PALO SECO
Belchior

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo, eu me desesperava

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português

Tenho 25 anos de sonho e de sangue
E de América do Sul
Por força desse destino
O tango argentino me vai bem melhor que o blues

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Eu quero que esse canto torto
Feito faca corte a carne de vocês

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