terça-feira, 31 de agosto de 2010

Meia Azul

Meia azul
pensei ter visto
uma meia - azul

Azul meio desbotada
como meu ânimo
como minha vontade
de repetir
que, talvez, era azul
- a meia

um pedaço de pano
a embrulhar seus pés
seus tantos pés
e suas mãos
e sua boca
e seu corpo
e suas palavras
e meus ciúmes
e minhas loucuras
e seu rosto
e o céu - azul

mas acredite:
não acredite em mim
por favor, não acredite
vai ver eu vi errado
vai ver nem era meia
nem era azul
vai ver que eu errei
vai ver nem era nada
eu errei, querida
talvez, só tristeza mesmo
só tristeza
só tristeza.

domingo, 22 de agosto de 2010

O que nunca passa

Há aproximadamente um ano atrás, eu escrevia Um pouco domingo, um pouco agosto. Naquela época, usufruindo dos meus veraneios de pseudo-poeta, falava sobre a semelhança dos dias, dos domingos, do tempo. E eis que naquela ocasião eu constatava que o ano de 2009 já começava a ver o seu fim.

Com rapidez percebo que eu estava certo. Digo: com estupidez percebo que estava certo. O tempo é invisível e avassalador e, portanto, constatar sua competência em rasgar os dias e os anos e os domingos é pura estupidez.

Porém a estupidez me acompanhou durante o ano que se passou e cá estou eu novamente. Domingo de agosto novamente. Tudo de novo novamente.

Hoje, entretanto, percebo que minha vida está fadada à não ter opções. Pois não tenho opção nessa noite de domingo senão escrever. A questão é: escrever sobre o quê? Um sem-número de assuntos me vem na cabeça: sobre as estrelas (tão fortes) que vi a agora a pouco; sobre as conversas (tão fracas) da televisão; sobre o enfraquecimento do pensamento pós-moderno; sobre a impertinência (ou a inversão) dos valores; sobre o orvalho da manhã (ou fé) que cedo passa; sobre as infinitas misericórdias divinas.

Poderia escrever também sobre os excelentes livros de Fernando Sabino que andei lendo esse ano. Sobre o Sentimento do Mundo, sobre Drummond.

No entanto só me resta a preguiça da vida. A preguiça de tudo e de todos. A preguiça que é o cansaço de todas as desilusões. Estou cansado de procurar verdade onde não há. Estou cansado de procurar verossimilhanças diversas. Estou com preguiça de ter que ouvir, dia após dia, as mesmas atrocidades. Tenho preguiça só de pensar no assassinato do raciocínio. Mas, afinal o que é mesmo raciocinar? Tenho preguiça de responder.

Tenho preguiça de tudo. E de todos.

Só me resta a tristeza de perceber que hoje sou um escritor falido, um vivente desvalido de coragem, em que nada mais se vê graça. As palavras, também, em mim, estão preguiçosas. Não querem sair, apesar de sua existência marcar tão forte todo o meu caminhar. Poeta do silêncio: é isso que sou. E não há poesia suficientemente capaz de mudar tal situação.

E a você, leitor, que não tem culpa da minha preguiça, tampouco da minha loucura, recomendo saber que todas as coisas lhe são lícitas, entre as quais está a arte de escrever. Porém, nem todas as palavras lhes convêm escrever. Não vale a pena se deixar levar por estas. Tome o exemplo de mim mesmo, que ao começar escrever esse texto, ignorei esta regra, esquecendo-me que há palavras que não precisam ser ditas, principalmente as que são fruto da preguiça. A preguiça de tudo.

E cá estou eu, perdido entre a maldita prosa, sem saber terminar o texto. Estou aqui sabendo que amanhã a semana começa e o ciclo continua, ignorando se eu estou pronto ou não. Talvez ano que vem esteja, ou não.

Porque insisto em escrever? Esta razão, como disse Sabino citando B. Pascal, é uma das quais a própria razão desconhece.

De tudo, cabe constatar, e finalizar, que em meus veraneios de pseudo-poeta estavam certos. Era quando eu inocentemente pensava e que hoje estupidamente eu repito:

Domingo de Agosto
Desgosto
Vai indo
Paz e Alvoroço
Fim e começo
Nada pelo avesso!
(Ou tudo pelo avesso?)
Dormir e acordar
Dúvida no ar...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

quarter past wonderful... and always

Todos, caminho ou ar, andam procurando a felicidade. O que os motiva é a curiosidade de saber que é isso mesmo, afinal ninguém sabe ao certo o que é. Lembram-se das palavras do mundo dizendo que ser feliz é bom. Ser feliz é isso e aquilo. Sabem que é prazeroso. Mas no fundo Desconhecem totalmente o que é a felicidade – esse nome estranho, essas letras tortas, essa todo senso.

Esse mistério sem fim que seguem a vida toda, tortuosa e tênue, branda e turbulenta, vazia e cheia, tentando desvendar.

E vão.

Mas vão. Estão tentando. Estão tentando.

É preciso ser feliz, ou seja, ser feliz é uma ordem – que ninguém ousa desobedecer.

A vida já não vale: é preciso a felicidade.

Busquem! E vão.

Desistem da vida em função da busca da tal felicidade. E a pergunta que cabe é se a morte saberá desvendar a o que a vida não soube responder.

Besteira isso de felicidade.

Eu, que busquei tanto essa felicidade, estou cansado. Algumas vezes, é verdade, pensei que havia encontrado. Mas nunca foi tão durador. Nunca preencheu vazio nenhum. E foi indo que... cansei! Hoje, penso que felicidade mesmo é algo

Don't know how
But that
Something extra delicious
Something sweet but nutritious
Something good
But I guess that we blew it
I mean I guess that we knew it
I mean I guess that we did

Don't know how
but that
Something God
.


em qualquer tempo, em qualquer espaço, em qualquer pessoa, em qualquer animal, em qualquer luar brilhante, em qualquer mato crescendo, em qualquer fogo, em qualquer lágrima, em qualquer olhar.

Qualquer coisa, alguma coisa que caiba: a outra felicidade.

Acessos