segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Invencível

Sou invencível em minhas causas
ontem mesmo fui criança
caminhei
hoje sou humano, ser, grande.

Sou invencível em minhas andanças
como imperador de discos empoeirados,
rei de quintais desertos,
amante de qualquer coisa.

Andei por aí buscando
Sei lá, sei lá.

Você é que não percebe:
anda sempre sem querer,
pode sempre sem poder,
fica sempre sem ficar,
e desdenha com olhar!

Terrível!

Mas há um tempo,
tempo contado,
que é o tempo da amadurecença.

Que é aí que as flores brotam
e a gente sente que é a hora
aí amadureço
amadureço
e meu coração amadurece
e meu corpo amadurece
e minha mente amadurece,
chego em casa, olho no espelho

- Sou invencível.

Troco de roupa
deito na cama
o reino das coisas
é meu novamente.

Troca de rosto,
Anoto na folha
- Sou invencível!

Que é aí quando eu percebo
que todas essas histórias ficam
para trás
bem longe
longe, longe, longe...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Adeus às Terras Sombrias

Aqui, tudo certo. Não há que se chorar, apenas sentir e olhar o advento do que há de vir.

Deste luar, quero a cor.

Desta música, quero a eternidade.

Da busca eterna pelo Eterno, quero a intensidade do andar chorar amar sofrer.

Dos vales acesos nas noites escuras, insistindo em continuar, quero a força da luta e não a alegria de possíveis vitórias.

Dos olhares ternos daquelas que cuidam, e daqueles que amam, quero a lembrança que tirará minhas vísceras e arrasará meu coração e não me deixará viver em paz.

Das amizades, quero as árvores que crescem, as folhas que caem, os frutos saudáveis, os vermes, a sombra, tudo que há, e, pro futuro, as sementes pequenas.

Das famílias desamparadas, espero que me deixem a sujeira das unhas, o teor das lágrimas, as vontades de esperança, e a esperança de vontades.

Das grandes metrópoles, gente andando, carros a passar, quero sempre a sua poesia.
Da infância, a mente; da juventude, os olhos; da velhice as mãos.

Do tempo, peço parcimônia.

De Minas, gerais. Sempre, não esquecer jamais.

De Guimarães, rosa; de Carlos, Drummond; de Fernando, Sabino; de Lewis, Narnia; de José Mauro... apenas Zezé.

Dos corações quero alma; da palavra peço calma.

Da oração, toda a sinceridade sombria; da religião eu quero a morte; dos templos, a destruição; da simplicidade, a permanência.

E da vida eu espero a morte, é claro. E do resto, ah, deixe vir.

E desse texto, a certeza de que nunca terminará...

Nos olhos de quem lê e na mente de quem respira fundo... e sorri.

Ah!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mil versos

Desse tempo de gostar
qualquer coisa me restou
dentre elas, analisar
ao dizer: “Aqui estou!”

Mas não quero perder meu tempo
E dos versos, a nobreza
Recolho palavras do momento
e coloco-as sobre a mesa.

Rimar é coisa difícil:
- Trate de aprender!
Amar também não é fácil:
- Tente pra você ver!

E ainda, de óculos, me espiam
repousados na mesa marrom
em sua enorme utopia
os olhos a mais de Drummond!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Vou pensar em algo melhor

Para as roupas lavar
E o chão enxugar
E os olhos tremer
E os ouvidos tapar
Faço-te esses versos

Se o nariz entupir
E o código falhar
E a repetição envolver
A maresia chegar
O cabelo cair
E o tempo passar...
Relembro-te minha vida

Mas se a chuva chegar
E você me esquecer
E o fogo queimar
E você se lembrar
Se a vassoura varrer
E se você morrer...
Antes mesmo de tudo
Cantarei em silêncio

E se tempo não vier
E a pele enrugar
E eu se eu me congelar
E se eu me tornar
E se eu me mudar
E se eu me matar
E se algo terrível acontecer

(...)

eu não vou te pedir
de maneira normal
de um modo usual
sobre uma poesia casual
para que fale qualquer coisa
com ou sem beleza.

Mas se tudo acabar
(e se for assim)
E se eu me perverter
E se eu enlouquecer
Na passagem dos anos
Saiba:
tudo começou normalmente,
como se deve tudo começar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Emeth

Tentando descobrir o misterioso, o enigmático, o irrespondível da vida, passei um bom tempo da minha vida nesta situação. A situação que pode ser expressa em muitos dos meus textos, trata-se de uma peculiaridade de todo ser humano: a dúvida. Todos nós, seres humanos, homens e mulheres, nascemos com um mundo dentro de nós; um mundo estranho, que precisa ser descoberto. E esse, talvez, seja o combustível presente na maioria dos seres humanos: a dúvida. Afinal, no decorrer da vida são as dúvidas, as perguntas, que gera em nós algo que nos move por uma busca. Uma busca finita – que, às vezes, nos dá a sensação de se mostrar infinita.

Quando criança, as buscas, monitoradas pelos pais, são ínfimas e infinitas e imensas. É do mais simples toque na tomada que se percebe a dor: uma lição para a vida toda. É olhando o comportamento dos pais que nós, crianças, percebemos o que é o ser humano. Percebendo, talvez, o animal de estimação notamos alegremente como é querer bem algo ou alguém. E quando esse animal, porventura, morre... nos deparamos com o peso da morte. Talvez algumas respostas não eram fruto da dúvida e, consequentemente da busca; mas vinham espontaneamente, em forma de simples e novas descobertas. Na infância nós pisamos firme no chão, olhos no horizonte do nosso quintal, e decidimos: existe um mundo a ser descoberto.

Na adolescência as descobertas se misturam as dúvidas novamente. É a fase de transição: de tudo. O que era, talvez não faça mais sentido agora. O que foi, pode ser e não ser. O futuro e o passado se juntam num presente incerto, duvidoso. Em meio a uma buliçosa conduta, o adolescente, fragilizado, descobre coisas importantes. Descobre o sexo, a família, o outro. Descobre, sobretudo, algo paradoxal: a dúvida. O que antes representava algo automático, simples, modesto, virginal, a dúvida, agora, ganha um peso incrível. Acrescenta-se a ela um papel extra: atribui-se a ela, agora, não só ser combustível para as descobertas, mas adquire um caráter independente, exterior ao indivíduo; e algo, acima de tudo, iminente. E, caminhando, nessa iminência, nasce o ser adulto.

O ser adulto é o resultado de suas dúvidas: respondidas ou não. Das dúvidas respondidas, ele, com certeza, constrói sua vida. Seus desatinos de adolescente serviram para alguma coisa. Para nortear. O que foi bom segue; o que foi ruim tenta-se abandonar. Suas dúvidas, antes problemas, agora são base para a vida – dali em diante. E vêm os casamentos, o trabalho, a faculdade, e todas as imposições de uma redoma que a Sociedade criou. Das dúvidas não respondidas, há duas possibilidades: 1) o indivíduo continua em sua busca, infinita, na busca de resposta; 2) se vê incapaz e percebe que há coisas da vida que adotam caráter, infelizmente, de não-resposta.

E a vida segue. Até a maior resposta ou a maior dúvida: a morte.

Durante dezoito anos de minha vida, vivi intensamente a busca do que parece ser clichê, assim, escrito: respostas. Hoje percebo que a maior resposta realmente está realmente na dúvida. Aquela dúvida, que nasceu na adolescência, mas que hoje se torna um só fato. A dúvida maior, única e, como disse, independente e iminente. A dúvida, que esteve presente em grande parte dos meus textos, me faz querer entender sobre Deus, sobre o comportamento humano e, acima de tudo, sobre o meu comportamento. A minha vida. Todas as minhas palavras, poéticas, são tentativas de explicação. Muito profundo. Algo que por muito tempo me fez perder a vontade de me relacionar, de ter amigos, namorada, família, colegas, tudo, tudo... Um peso imenso, um fardo, que carreguei de cabeça baixa (imperceptível aos que me rodearam) e que ao longo do trajeto fui transformando em palavras. Incompreendidas ou não, palavras.

Se eu fosse Heráclito de Éfeso, diria que, depois disso tudo, não sou o mesmo. E realmente não sou. Entretanto há algo em mim que busca ser o mesmo. Depois de tudo isso, há algo em mim procurando alguma coisa sobre “essência”, sobre “início”. Há algo em mim me dizendo que dúvida não é mesmo sobre o que eu era ou serei, mas sim do que eu posso ser. Do que eu consigo ser, sobretudo. Hoje, dia 10 de janeiro de 2011, posso ver que a dúvida, antes corrosiva, não se preocupa mais em me incitar. Depois de tantas brutas palavras, imensas palavras, hoje busco algo mais singelo. É minha essência que busco e, não sei quanto à morfologia, mas algo extremamente ESSENCIAL – essencial para caminhar.

Hoje decidi que não posso ser poeta da inocência. Inocência, no meu caso, que reside na busca da perfeição da explicação, incerta, como pretexto das minhas dores, culpando sempre a dúvida. Inocência era isto. Era. Há que ser maduro, no entanto. Ser maduro e descobrir que a dúvida, presente sempre, é uma velha amiga e não devo a ela culpar dos meus delírios de poeta. Maturidade é, enfim, perceber que tudo que é bom, só é bom porque percebeu que era ruim – em algum momento da vida - e voltou à essência.

É isso que quero hoje: a minha essência. Se é duvidosa, ambígua, dúbia, confusa, não me resta saber. Aliás, não me resta saber nada a partir de hoje.

Reitero: quero saber e duvidar apenas do essencial.

E que venha a essência, me fazendo ser quem eu era, se isto for possível.

Por fim, não pretendo distribuir palavras (aparentemente, concordo, muito clichês) num texto, sem ao menos dizer o motivo. E não duvidem: A partir daqui, nasce um novo homem. Um novo homem que serei. Sem mácula, sem frenesi; um ser maduro.

Que é para a vida seguir, buscando sua maior certeza.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sobre o entender e o amar

O que subentendo
eu também falo
que é para você aprender.

Quando te amo
eu também falo
que é para você se sentir amada.

Quando te ouço
eu, sobretudo, te ignoro
para te gostar mais e mais
e cada vez mais.

Minha voz, quando te clama,
não diz nada, nada
mas quando te falo
é para acreditar.

Quando te espero
se souber a resposta
responda
e se tiver a pergunta
pergunta
e se tiver que matar
mate.

Eu não ligo.

Quando te amo,
eu também falo,
eu também subentendo,
eu também ignoro,
eu também ouço,
eu também espero,
e é pra valer.

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